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terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Poema de Natália Correia



 
 
Natália Correia retratada por Bottelho
 
 

Cidadania


Buquê de ruídos úteis
o dia. O tom mais púrpura
do avião sobressai
locomovida rosa pública.

Entre os edifícios a acácia
de antigamente ainda ousa
trazer ao cimo a folhagem
sua dor de apertada coisa.

Um solo de saxofone excresce
mensagem que a morte adia
aflito pássaro que enrouquece
a garganta da telefonia.

Em cada bolso do cimento
uma lenta aranha de gás
manipula o dividendo
de um suicídio lilás.


Natália Correia, in "O Vinho e a Lira"